Apesar de não ser tão bom, o sistema de transporte público aqui no Brasil ainda serve para alguma coisa. Se você precisar pegar ônibus, vai ficar feliz porque sempre tem um ônibus para você. A viagem pode não ser ideal, mas ônibus... tem.
E o que eu quero que você imagine é que o ônibus vai do ponto A ao ponto B. O caminho entre o ponto A e o ponto B é o trajeto. E os pontos A e B são o fim da linha. É onde todos os passageiros descem — se ainda tiver algum — e a viagem acaba ali. E isso é como era a minha cidade natal. Ela nunca era o trajeto. Ela era o fim da linha da viagem de qualquer pessoa. Por isso a gente era muito isolado. E eu não percebia que as pessoas falavam de maneira diferente.
Daí, logo que cheguei em Salvador descobri que as pessoas falavam de maneira muito diferente. E se você tiver a chance, vai aprender muita coisa do português aqui nessa linda cidade. E talvez você descubra o que eu descobri.
Um dia eu estava conversando com uma senhora na rua. São essas conversas que a gente tem com desconhecidos para passar o tempo enquanto o ônibus não chega. Normalmente, a gente não pergunta o nome da outra pessoa e também não diz qual é o nosso nome. Então ninguém se apresenta, mesmo que a conversa dure mais de uma hora.
Mas quando foi pelo fim da conversa a senhora olhou pra mim e disse “tchau, Binho. Faça uma boa viagem.”
E eu fiquei pensando. “Nem eu tinha dito meu nome nem meu nome era Binho.”
Mas tudo bem. Pode acontecer.
Nos dias seguintes, várias pessoas foram me chamando de Binho. E eu ficava me perguntando: quem disse a elas que meu nome era Binho? E então um dia chamaram a minha irmã de “Binha” e eu percebi:
Ah, então Binho é “fulano”. Que legal.
Em geral os brasileiros são muito afetuosos. Nós abraçamos e damos beijinhos e oferecemos bolo e outras comidas. E essa afetuosidade está presente no nosso idioma. Quando não sabemos o nome de alguém, podemos dizer que essa pessoa é “fulano”, “sicrano” ou “beltrano”. Talvez a gente não saiba o nome dessas pessoas ou não queira dizer o nome dessas pessoas. Mas não é muito educado olhar na cara de alguém e dizer: “ei, fulano.”
Por isso, os brasileiros arranjaram uma solução inteligente. Eles dão nomes diferentes para as pessoas.
Algumas das palavras que você pode utilizar quando não souber o nome de alguém são:
Amigo. Amigão. Colega. Chapa. Xará. Coligado. Querido. Queridão.
E você deve ter percebido que utilizei apenas o masculino. Essas palavras são mais comuns entre homens. As mulheres normalmente usam entre si “amiga, colega, querida, meu anjo, minha flor...”
E na Bahia dizemos “binha” e “binho”, não importa o gênero da pessoa.
Agora só um cuidado: A depender do seu tom de voz, você pode passar uma sensação de ironia ou raiva. Tem muita diferença entre dizer:
“Ei, meu querido.” e “Ei, meu querido!”