Tem muita gente por aí que gosta de ler muita coisa, mas detesta poesia. Acham que poesia é complicada, difícil, coisa de outro mundo. Você é uma dessas pessoas? Se for, talvez, quando quiser ler poesias em português, você faça como eu. Leia poesia para crianças. Antes, eu detestava poesia. Eu lia e ficava coçando a cabeça. Era sempre muito complexo. Mas aí então, um dia, eu me deparei com um livro da Cecília Meireles. O livro dela se chama Ou Isto Ou Aquilo. E tem um poema que dá o título ao livro (veja o vídeo animado do poema aqui - YouTube). Esse livro é muito bom, mas é pouco conhecido. E ele foi escrito para crianças. Então a linguagem é bem acessível. Talvez você goste de ler as histórias nele.

Eu li esse livro há muito tempo. E pretendo relê-lo. Em breve.

Eu acho que você reparou que eu falei “esse livro”, e não “este livro”. Você sabe por quê? Por que é que, às vezes, a gente usa “este” e não “esse”? Se não souber, me acompanhe, que hoje a gente vai descobrir a razão.

Este x Esse

Essa é uma dificuldade que alguns dos meus alunos têm e muitos brasileiros não conseguem explicar. Qual é a diferença entre “este” e “esse”?

Eu vou começar pela parte complicada, mas acredito que os exemplos vão simplificar.

A gente usa “este” e suas flexões, que são “esta, estes, estas,” etc. quando a gente está falando de algo perto da gente. Você não pode ver agora, mas eu tenho um microfone diante de mim. E este microfone custou caro. Mas valeu a pena, acredite. Você nunca ouviu a minha vizinha gritando? Se não ouviu, é porque o microfone é bom.

Já “esse” e sua família (esses, essas e essa) são usados quando a gente está falando de algo longe da gente, mas perto da pessoa com quem a gente fala. Tecnicamente, a gente diz que quando a gente menciona algo que está próximo fisicamente da segunda pessoa gramatical, mas longe da primeira pessoa.

Complicado, né?

Então imagine a seguinte situação.

Eu estou andando na rua e encontro você. Você comprou um sorvete muito bonito. Como sou invejoso, olho para o seu sorvete, aponto para ele e pergunto:

“Onde você comprou esse sorvete? Quero comprar um igualzinho.”

E você diz: “este sorvete? Comprei ali.”

Pode ficar um pouquinho complicado perceber a diferença entre os dois. Especialmente porque aqui no Brasil nós usamos ambos de maneira quase intercambiável. Existe uma preferência em algumas situações. E essa preferência funciona um pouco como quando escolhemos as nossas roupas. Não há nenhum problema em ir de terno e gravata ao supermercado. Inclusive, existe gente que faz isso. Mas a preferência é usar uma roupa mais casual. Se alguém estivesse de terno e gravata dentro de um supermercado, provavelmente chamaria mais a atenção dos outros. Do mesmo jeito, quando usamos “este” e “esse” numa situação em que não são usados com frequência.

Na conversação, a nossa tendência é juntar a palavra “este” com “aqui” e “esse” com “aí”.

Então, na conversa do sorvete que nós tivemos acima, provavelmente diríamos:

  • “Onde você comprou esse sorvete ? Quero comprar um igualzinho.”
  • Este sorvete aqui? Comprei ali.”

Mas só existe diferença nesses casos?

Não.

Quando falamos do tempo, também podemos usar “este” ou “esse”.

Se estivermos falando do presente, por exemplo, algo que vai acontecer hoje, tendemos a utilizar “este” ou “esta”.

  • “Eu quero me divertir muito nesta noite. Trabalhei tanto a semana toda, eu acho que mereço.”
  • “Esta semana vai ser muito louca. Chegam produtos novos e nós precisamos organizar tudo a tempo.”

Agora utilizamos “esse” quando falamos do passado ou de alguma coisa que já foi mencionada antes.

  • “Eu nasci em 1988. Nesse ano, meus pais conseguiram comprar uma casa.”
  • “Eu acho que você já me contou essa história antes. Ela parece muito familiar para mim.”

E tem mais casos?

Claro que tem.

Regras e exceções no português são como trabalho dentro de casa: Se você procurar, vai encontrar alguma coisa para fazer. Sempre.

Por isso, escrevi um artigo um pouco mais detalhado sobre esse assunto. Você pode dar uma olhada na transcrição desse episódio e visitar o link que eu deixei de recomendação.

Mas, em geral, essas são as regras principais. E lembre-se de que os brasileiros normalmente não respeitam essa regra na conversação. Numa situação mais formal, provavelmente a gente vai tentar falar direitinho, mas quando a gente conversa com amigos, ninguém liga.

E agora eu vou deixar um exercício para você. Me conta depois, o que você fez nesse final de semana. No meu caso, eu posso dizer que esse final de semana eu não fiz muita coisa porque fui visitar a minha irmã.

Extra Resource:

esse-ou-este-nossa-lngua-como-ela