Duas coisas que preciso esclarecer com você, caro ouvinte, cara ouvinte, essas duas coisas que preciso esclarecer são que: (primeiro) a gente tem duas palavras, escusas e desculpas, e as duas servem para dizer a mesma coisa. Mas a palavra “desculpa” é muito mais comum.
A segunda coisa que preciso esclarecer é que os brasileiros dão muitas desculpas para atrasos. Acho que isso acontece com muitas pessoas, mas como eu moro no Brasil acho que aqui é mais comum.
Trabalhei numa empresa onde um cara sempre chegava atrasado. Toda semana ele contava uma ou outra história para justificar o atraso. Uma vez ele tinha ido visitar uma tia doente. Noutro dia, ele tinha sofrido um acidente. Mas a desculpa mais comum – e mais absurda – era quando a avó dele morria.
A pobre velhinha deve ter morrido pelo menos três vezes. Quando a avó dele “morria”, ele não aparecia no trabalho. E ele até chorava quando dizia que avó tinha morrido!
Mas um dia meu chefe ficou irritado e disse: “Cléber, deixe a sua avó quieta. Se não quer trabalhar, diga, mas deixe a velha quieta.”
Ai, essa doeu.
E a expressão que o chefe usou foi: “deixar alguém quieto” que significa “não incomodar alguém, deixar alguém em paz, não importunar ou não ser chato com alguém.” É uma expressão comum e usa um verbo ainda mais comum — o verbo “deixar”.
E esse é um verbo muito versátil mesmo. E hoje vou deixar de lado a história que contei e vou apresentar outros usos dessa palavra.
Acho que não vou conseguir deixar de lado a história, isto é, ignorar a história que contei, porque...
Bom, depois de um tempo, o Cléber deixou de dar desculpas para seus atrasos. E ele deixou de dar desculpas, isto é, ele parou de contar mentiras para justificar seu atraso, bom, ele deixou de fazer isso porque ele saiu da empresa. Ele deixou de trabalhar lá. Mas ele não foi demitido. Ele preferiu sair, porque arranjou outro emprego melhor.
E “deixar de” significa “parar de”. E observe bem o uso da preposição. Deixar de.
Inclusive, o mesmo chefe de quem falei... uma vez... bom, ele reuniu todos os empregados do nosso departamento. Ele queria fazer uma festinha, uma celebração, mas as coisas não foram muito bem. O chefe bebeu, outro empregado bebeu, e como eles já não eram muito amigos, começaram a brigar. Uma parte dos empregados, incluindo a mim, batia palmas e dizia: “BRIGA, BRIGA, BRIGA!” Mas outra parte dizia “deixa disso, chefe! Deixa disso! Não vale a pena!”
Pouco tempo depois, o empregado que brigou com o chefe... ele saiu da empresa. Ele foi demitido. O chefe não deixou a briga para lá – e quando você deixa algo para lá, você não se importa com algo, não acha que é mais importante – e como o chefe não deixou a briga para lá, ele foi lá e “PAM!” demitiu o funcionário.
Que filho da mãe!
Bom, não sei mais nada daquela empresa – já não trabalho lá faz muito tempo – mas pelo menos a memória dela me foi útil. E agora, se você tiver alguma pergunta, deixa comigo, que eu posso te ajudar.