Buraco.
Não sei por quê, mas gosto muito dessa palavra. Talvez porque ela me lembre da minha cidade natal – o que não é necessariamente positivo – ou talvez por causa do som. A gente enche a boca para falar, né? Bu-ra-co.
E isso me lembra, por exemplo, de quando eu era mais gordinho (antes da pandemia, tá?) e não conseguia perder peso. Eu tentava, tentava e tentava e não conseguia perder nem um quilinho sequer! Meus amigos diziam – é genética, Eli, não se preocupe. Tem gente que tem mais dificuldade e outras que nunca ganham um quilo, por mais que comam. Eu era uma dessas que demorava para perder peso. Se perdesse.
Mas quando fui a uma nutricionista, descobri que o buraco era mais embaixo. Escute bem. O buraco era mais embaixo. E isso significa que o problema não era bem o que parecia ser – não era genética. E usamos essa expressão para contestar, para discordar do que dizem ser a razão de algo. Nós dizemos: ei, colega, você diz que esse é o problema, mas o buraco é mais embaixo. Ou seja, o problema é bem diferente do que você diz ser.
No fim, consegui perder o peso... mas ganhei tudo de novo agora na pandemia.
Agora, mudando de assunto – embaixo se escreve junto ou separado? É embaixo ou “em baixo”?
É um problema comum de brasileiros. O correto é “embaixo”, numa palavra só. O livro está embaixo da mesa. A gata está embaixo da cama. E você viu aí que é “embaixo de”.
O contrário dessa expressão é “em cima” – e são duas palavras. Em. Cima.
Exemplo: O livro está em cima da mesa. Eu estou em cima do sofá.
E talvez você conheça a palavra “debaixo”. Ela tem o mesmíssimo significado que “embaixo” e é usada até da mesma forma. “O gato está debaixo da mesa”.
E só uma coisinha: quando fui me consultar com a nutricionista, fui a uma nutricionista do meu plano de saúde. Os preços de uma consulta com uma nutricionista particular estavam lá em cima. Os preços estavam lá em cima. E meu salário estava lá embaixo. Então não dava para fazer muita coisa.
E esse foi o “Nossa Língua como Ela É” dessa semana: em cima e embaixo.